Notícia – Mensageiro de Bragança – 09/12/2021
O Brigantia EcoPark- Parque de Ciência e Tecnologia de Bragança é apontado como um caso exemplar, pois apesar de ser o mais periférico da rede PortusPark, ultrapassou as melhores expetativas que eram apontadas quando foi inaugurado há seis anos. A taxa de ocupação é de 95,83%. Estão ali instaladas 68 empresas, mais quatro entidades (IPB, Demola North, Centro Nacional de Competência dos Frutos Secos, Colab-More Montanhas de Investigação e Secretaria de Estado para a Valorização do Interior).
No total foram criados cerca de 300 postos de trabalho qualificados e altamente qualificados, onde a média de idades anda abaixo dos 35 anos. “O Brigantia tem uma dinâmica muito interessante de crescimento e captação de novas empresas. Temos quase a lotação esgotada. O balanço é extremamente positivo”, referiu o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, vincado que este ecossistema tem sido apontado como “um exemplo até a nível internacional”.
O Brigantia, tal como o Regia Douro faz parte da PortusPark, associação cria há cerca de 30, anos contribuindo para o que tem sido o crescimento e reforço da intervenção das start-ups e spinoffs, “na modernização e valorização do tecido empresarial do Norte”, vincou a fonte daquela associação, sem esquecer a participação no mercado global em que grande número destas jovens empresas, inovadoras e de alta intensidade tecnológica, obrigatoriamente se movimentam.
No âmbito desta rede que trabalha no Norte do país foram criadas 600 empresas, seis mil trabalhadores, com mais de 300 milhões de volume de negócio anual o resultado da atividade da Rede da Associação do Parque de Ciência e Tecnologia do Porto (PortusPark), constituída por oito Parques de Ciência e Tecnologia e três Incubadoras, instalados no Norte do país.
Uma fonte do PortusPark adiantou que estudos da associação indicam que “é inquestionável” a riqueza gerada neste ecossistema por via das empresas e dos colaboradores (IVA, IRC,IRS), para além do contributo fundamental na fixação de talentos em vários concelhos. “Cada um dos Parques contribui para uma significativa valorização da sua região” face às áreas de atividade mais representadas em cada um. A rede é composta por uma grande diversidade de setores de atividade, incluindo também as Indústrias Culturais e Criativas, Automação e Robótica Biotecnologia e Inovação Social.
Outro bom exemplo do Interior do país, é o Régia-Douro Park, situado em Vila Real, inaugurado em 2016 para trabalhar no setor da vinha, do vinho e do agroalimentar, acolhe atualmente 80 empresas, tem 500 trabalhadores e um volume de negócios de 40 milhões/ano. Produtores de vinho estão ali a instalar armazéns, num investimento total de seis milhões de euros, que os aproxima da rede de autoestradas e contorna as restrições de construção no Alto Douro Vinhateiro, classificado como Património Mundial.
No Brigantia há empresas a fazer a diferença. Umas em fase de instalação e outras já cresceram tanto que precisam de sair para espaços maiores.
Luís Lourenço, natural de Lisboa, acabou de instalar-se com a marca YouMoneyWacher, empresa de formação na área das finanças pessoais. “O nosso objetivo é capacitar as pessoas para gerir melhor o seu dinheiro. Trabalhei na banca mais de 20 anos, tenho formação em Finanças. A ideia surgiu numa altura em no local onde trabalhei, falei sobre finanças de um modo um pouco informal, como correu muito bem e teve aceitação, mais tarde fiz um workshop mais organizado. Teve muito sucesso e percebi que havia mercado e interesse. Daí até agora foi fazer o produto e prepará-lo para vender,” descreveu. Luís mudou-se neste contexto de alteração dos hábitos profissionais que a pandemia forçou, com parte do trabalho e do negócio a passar para o digital. “Estou cá por razões familiares, mas vou avaliar a possibilidade de fazer o negócio a partir daqui. Não fazia parte dos meus planos vir”, revelou.
Que já se prepara para sair do espaço do Brigantia, onde está desde 2018, é Vítor Gonçalves, face ao crescimento da sua empresa que já carece de um local de maior dimensão. Por isso adquiriu um terreno na nova zona industrial de Bragança, onde vai instar-se num armazém.
Até a ano passado a sua empresa comercializava equipamento para clínicas dentárias, só que com a pandemia passou a vender também máscaras, luvas, testes covid-19. “Como as clínicas dentárias fecharam e ficamos sem trabalhos, tivemos que arranjar uma alternativa. Como íamos sendo contactados por médicos e clínicas que careciam de máscaras e luvas direcionamos as vendas para esse nicho, dos consultórios médicos, farmácias”, explicou Vítor Gonçalves. O negócio cresceu tanto que agora já precisa de mais espaço. “Eramos duas pessoas, quando começamos a qui no Brigantia, agora somos oito e já estamos a ocupar uma sala a mais. Temos que mudar”, referiu o empresário.
Cada vez mais consolidada a Ready to Pub foi considerada pela segunda vez consecutiva a empresa Prestadora de Serviços Editoriais do Ano.
O sucesso é inegável, tanto mais que se trata de uma nano-empresa, com um funcionário e sem instalações próprias. O proprietário, Ricardo Malheiro, antigo investigador do Politécnico de Bragança, trabalha no espaço co-working do Brigantia. Com um computador, um telemóvel e acesso à Internet consegue ir longe. Subcontrata cientistas consoante a área do investigador a quem presta apoio.
Presta um serviço único a nível mundial. Trata de todas as etapas necessárias para publicar um artigo científico. “É o Ready To Pub (Pronto a publicar), fazemos tudo. Dou acompanhamento ao investigador desde a escrita do artigo científico, modificações de texto ou outras até à publicação. Depois durante dois anos mantém-se em contacto com o autor para melhorar o artigo. Asseguramos as traduções profissionais”, descreveu.
O serviço tem muita saída e a procura está em crescendo. “Cada vez há mais gente a querer publicar, mas as revistas não têm um espaço infinito, a seleção é cada vez maior e a taxa de rejeição tem vindo a aumentar. Só cabem lá os melhores, por isso chateamos constantemente o autor para que cumpra os prazos”, descreveu.
A empresa foi criada em 2017 e está instalada no Brigantia há dois anos e meio. “A ideia surgiu quando fiz a tese de doutoramento. Quando quis publicar um artigo científico o editor exigiu que passasse pelo crivo de uma empresa certificada. Enviei o meu trabalho os Estados Unidos da América, a relação qualidade-preço foi excessiva”, recordou Ricardo Malheiro. Em 2014 teve a ideia da empresa. Avançou, com investimento próprio. O primeiro trabalho foi para um investigador do Equador. “Já prestamos serviços a 400 autores de 34 países. Fazemos workshops online, com 1099 participantes e uma avaliação de 9,3 (numa escala de 0 a 10)”.
Escola de Guitarra online passou de 14 para mais de 900 alunos num ano
A covid-19 obrigou a reajustamentos e Rafael Santos, professor de música, radicado em Bragança, não esteve com meias medidas apostou na mudaça. Era proprietário de duas escolas tradicionais, com aulas presenciais, mas com o confinamento foi obrigado a fechar, ficando sem fontes de rendimento.
Para contornar o problema criou a Escola de Guitarra Online, para adultos. Arriscou tudo num projeto diferenciador, sem saber o que o esperava e qual seria a aceitação do mercado. “Temos um curso de um ano que é administrado via zoom, com mais de 160 aulas divididas por vários níveis. As dúvidas podem ser tiradas por videoconferência com os professores, sempre que for necessário e o aluno desejar”, referiu.
Desde março de 2020, quando a escola iniciou a atividade, passou de uma turma com 14 alunos para 971 e oriundos de vários países da Europa. “Trabalho aqui a partir do Brigantia EcoPark. Temos um curso definido, muito direcionado, desde o nível zero até ao cinco, para que os alunos não se percam e evoluam de forma estruturada. Estudam a partir do conforto da sua casa”, referiu Rafael Santos.
Trata-se de um projeto pioneiro no país, que está em crescimento. A nível internacional tem muita aceitação. “Toda a gente que o deseje pode aprender música online. O nosso aluno mais velho inscreveu-se com 90 anos”, acrescentou.
Os alunos só carecem de acesso à internet e se não tiverem computador também lhe basta um telemóvel. “Podem evoluir ao seu ritmo, independentemente da idade”, sublinhou Rafael Santos que encontrou no Parque de Ciência e Tecnologia um espaço com todas as condições para realizar o seu trabalho.
Rafael estava habituado a lidar cerca de 40 alunos em regime presencial, só que agora o seu universo de trabalho alargou-se de maneira que não esperava. “Vamos lá ver até onde isto vai. É muito enriquecedor”, garantiu.
Camila faz roupa original com tecidos que iam para o lixo nas fábricas
É com materiais que tinham como destino o lixo que, Camila Santos, designer de moda, produz vestuário da sua autoria com a marca Afro Genesis. Trata-se de um conceito direcionado para um público jovem e urbano que procura artigos originais. “Compro tecidos, que desperdícios de empresas, que fazem grandes produções. Às vezes ainda são rolos de tecido com muitos metros que tinham como fim a lixeira. Eu faço peças novas e originais”, explicou a designer, natural de Vimioso, onde começou a trabalhar após a conclusão da licenciatura.
Mudou-se para Bragança e no Brigantia EcoPark encontrou as condições que procurava, numa cidade de média dimensão para ter um mercado maior. “É muito prático, porque na renda vem tudo incluído, nomeadamente a internet”, referiu.
Camila começou a confecionar roupa ainda quando estava a estudar na Universidade da Beira Interior que vendia aos colegas africanos pois procuravam vestuário feito com capuanas. “Nessa altura decidi juntar o estilo africano ao streetwear. Daqui nasceu o conceito Afro Genesis, que é uma marca que pretende dinamizar e fundir culturas, sempre atendendo ao uso de materiais de qualidade, design exclusivo, feito em Portugal”, indicou.